A paixão pela empresa paga as suas contas?

Apesar do empreendedorismo em nosso país estar muito relacionado como uma opção de colocação no mercado, principalmente em épocas de crise e desemprego, há aquelas pessoas que empreendem por se sentirem desafiadas e desejarem mais do que simplesmente um emprego de carteira assinada. Buscam o crescimento como pessoa, como profissional e no desejo de ter sucesso, constituem seus empreendimentos para empregarem pessoas e contribuírem para o desenvolvimento local e do país.

 

Em alguns atendimentos de consultoria que realizo, noto que a paixão pela empresa, pelo negócio, é muito grandiosa por parte do proprietário/gestor, onde muitas vezes o empreendimento foi resultado de um sonho, e nota-se a satisfação de ter sido realizado. E isso é muito bom, pois é o resultado de um esforço de dedicação, tempo, dinheiro, capacitação, que talvez tenha levado anos para se chegar como está hoje.

 

Apesar dessa satisfação pessoal, em alguns casos o empreendimento não demonstra viabilidade econômica e financeira. É um sonho realizado, uma paixão do empreendedor, mas pelas características do negócio, dificuldades de mercado ou deficiência na gestão, não se apresenta como um negócio rentável. E nesse ponto a razão torna-se mais relevante do que a emoção.

 

É muito comum que o empreendedor tenha em sua bagagem de experiência, vivência e conhecimento, aspectos ligados mais à sua profissão do que à gestão de seu empreendimento, visto que muitos passaram da condição de empregados, onde possuíam um vasto conhecimento técnico de suas funções, para a ocupação de empresário, onde passaram a executar multitarefas. Em muitos casos, esses empreendedores aprendem gestão no modelo “Executa, erra, aprende”. (ou não aprende).

 

A má gestão de uma empresa é sentida nos números que ela apresenta. Dificuldades de caixa, desorganização nas contas, contratação recorrente de empréstimos, prejuízos, ações trabalhistas, desperdícios, retrabalho, entre outros fatores, são os indicativos de que algo não vai bem. No mundo dos negócios, paixão sem gestão tem pouca probabilidade de dar certo. É necessário que todo empreendimento tenha um retorno do que foi investido, afinal ninguém gosta de rasgar dinheiro.

 

Sabe-se que devido a dificuldades do mercado, nem todos os negócios estão apresentando rentabilidade e alguns nem lucratividade. Ou seja, não é somente culpa da falta de gestão que um empreendimento não terá sucesso. Mas devemos partir do princípio que tudo o que precisa ser realizado para melhoria da empresa, deve ser feito, pois depende de uma atitude pró-ativa, que em conjunto com conhecimento de gestão e busca de apoio profissional, possa suprir essa dificuldade.

 

A rentabilidade ou o cálculo de retorno de investimentos é um dos principais indicadores econômicos, a fim de sabermos se o negócio é viável. Ele representa qual taxa de remuneração que o investimento ou capital realizado na empresa apresenta. E de acordo com o resultado, podemos comparar com o custo de oportunidade, ou seja, caso você não tivesse a empresa, o que faria com o mesmo valor que foi investido? E que retorno o investimento traria? Seria aplicado numa poupança, numa renda fixa, renda variável, emprestaria para alguém, compraria um imóvel ou faria outro tipo de investimento? O quanto se ganharia de rentabilidade com o mesmo valor investido numa outra aplicação, fora o da empresa? (Veja mais no meu artigo sobre rentabilidade, clique aqui).

 

O próprio empreendedor deverá estabelecer qual a taxa de rentabilidade que deve atingir, mas é importante observar as taxas de aplicação no mercado, pois é um parâmetro. É o que se analisa ao investir num negócio. Mas não é só isso: aí entram outros fatores, como a própria paixão, que tanto já citei nesse artigo, a profissão e ocupação do empreendedor, o valor de retirada mensal, a ocupação da família na empresa (caso a empresa seja familiar), entre outros. Pode ser que o empreendimento não tenha uma taxa de retorno atrativa, mas não quer dizer que deve-se abandonar.

 

Nota-se também que muitos empreendimentos se mantém pela persistência, paciência e garra dos seus gestores. É nesse cenário que fica até mais visível a paixão pelo negócio, pois é o que realmente está segurando a empresa de pé. Algumas empresas se mantém assim, outras se recuperam, mas grande parte fica pelo caminho, pois não tendo um trabalho de gestão, só esperam algo de bom acontecer no mercado a favor da empresa, numa situação reativa. Se ao menos o empreendedor tiver uma reflexão acerca de quanto que a paixão pela empresa deve trazer de retorno financeiro, e se ainda não traz retorno, por quanto tempo ele deveria esperar, provavelmente teríamos empresas e empreendedores menos endividados atualmente.

 

Temos casos também que, mesmo tendo sucesso econômico e financeiro, há dúvidas se um empreendimento tenha prosperidade se o seu proprietário/gestor não tem a paixão pela empresa. Conseguirá pagar as contas e ter lucro, mas se sentirá frustrado por gerir uma empresa que tenha uma atividade que não goste. Podemos fazer uma relação entre trabalharmos numa empresa, ganharmos relativamente bem, e não gostarmos do que fazemos.

 

Talvez uma situação pior é uma empresa com dificuldades financeiras e ainda os gestores não terem a paixão pelo empreendimento. Nesse caso, é uma situação quase de trabalho forçado, obrigatório, não tendo satisfação e ainda sofrendo com os credores. Acredite: há casos assim, principalmente de empresas endividadas, onde os gestores tem a empresa simplesmente para pagar as dívidas, estão alí até resolver a situação.

 

Diante disso, acredito que mesmo que uma empresa esteja com problemas de gestão, mas se seus proprietários são apaixonados pelo negócio e desejam resolver tais problemas, se sentirão motivados a buscarem apoio e capacitação, para alcançarem sucesso econômico e financeiro. Mas dependerá somente da proatividade deles. Entre gestão e paixão, o interessante será a combinação desses dois fatores: a satisfação por ter um empreendimento e que esse tenha saúde econômica e financeira. E mesmo que demore para ter retorno financeiro, que pelo menos o empreendedor tenha essa consciência, realize seu planejamento e defina um tempo limite de espera.

 

Fabio Nepomoceno - Contador e Consultor em Finanças

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