Qual o efeito prático da baixa da taxa de juros?
Novamente o Banco Central, através de reunião do COPOM (Comitê de Política Monetária) do dia 21/03/2018, reduziu a taxa básica de juros da economia, ou também chamada de taxa Selic. A taxa passou a ficar no patamar de 6,5% ao ano, ou cerca de 0,526% ao mês, considerando capitalização mensal.
Mas afinal, qual o efeito prático da variação dessa taxa em nossa rotina? Tempos atrás já escrevi sobre a redução da Selic (veja aqui). Mas volto ao tema, visto que essa taxa chegou num nível histórico e é importante sabermos como aproveitar.
Devido ao ambiente de baixa inflação e ainda para incentivar o consumo e retomada do crescimento, o Banco Central promove a redução dos juros, após análise de indicadores econômicos. Como a Selic é uma taxa de referência e norteadora para os bancos, espera-se que a taxa de juros do mercado, ou seja, aquela que encontramos nas instituições financeiras, também seja reduzida. Contudo, devido ao ganho deles, conhecido como spread, essa redução demora para aparecer no mercado, principalmente para crédito destinado à pessoa física.
Como a rentabilidade de muitos investimentos estão atrelados à taxa Selic, principalmente de renda fixa, como poupança, CDB (Certificado de depósito bancário), títulos do tesouro direto, entre outros, a redução da taxa reduzirá a rentabilidade dos investimentos. Isso faz com que os investidores alternem seus investimentos para a renda variável, ou aplicando em novos negócios. Empreender poderá tornar-se mais rentável do que deixar o dinheiro aplicado. Além disso, para quem já empreende, o ambiente torna-se favorável para investir, pois o custo do dinheiro reduzirá, motivando ampliação de instalações, novos maquinários, novos investimentos, enfim estruturando empresas, para gerar empregos e renda.
Saindo um pouco da visão macro, em nosso dia-a-dia poderemos sentir a redução da taxa de juros, de acordo com nossa situação perante às finanças. De uma forma muito simples, podemos destacar dois perfis de pessoas ou empresas:
1) Poupadores ou aplicadores de recursos (dinheiro): Se temos uma sobra em nosso orçamento e investimos regularmente ou eventualmente, os rendimentos vão reduzir, principalmente para quem investe em renda fixa. Para se ter uma idéia, a poupança passará a ser remunerada em cerca de 0,3682% ao mês (70% da taxa Selic). Um CDB de banco tradicional poderá render cerca de 0,48% a.m., tendo ainda o desconto de imposto de renda.
Mas isso não quer dizer que a renda fixa não é viável. Ela continua sendo um tipo de aplicação que tem seu ganho, mesmo que pequeno, para quem deseja correr risco mínimo. Apesar de sua rentabilidade reduzir devido à baixa da taxa básica de juros, o seu rendimento ainda está maior que a inflação do período. Por exemplo, a poupança num ano rende cerca de 4,55% a.a., e a inflação acumulada nos últimos 12 meses está em 2,84% a.m. (IPCA), demonstrando ainda um ganho líquido de 1,71% ao ano, ou conhecido como taxa real. Deve-se observar o ganho líquido, quanto maior a diferença entre a taxa de rentabilidade de um investimento e a inflação do período, melhor.
Aproveitando, tempos atrás escrevi um artigo sobre o que é melhor: poupança ou CDB? Veja aqui
Para os aplicadores, a alternativa é diversificar para renda variável ou semi variável, observando o perfil de investidor. Pode-se buscar alternativas de investimento em fundos de investimentos, negociação de ações, Tesouro Direto, CDB’s de bancos não tradicionais (mas que tem garantia do Fundo Garantidor de Crédito), fundos imobiliários, debêntures, entre outros. Existe todo “um universo” de investimentos além dos tradicionais “poupança, capitalização, cdb, etc”, que está disponível no mercado. E hoje temos a facilidade de informação e acesso à corretoras de valores através da internet. A renda fixa e tradicional continuará sendo importante, mas se você quer ter um retorno maior e se afastar do efeito da inflação, o investimento em renda variável será importante, mesmo que o risco aumente.
2) Tomadores de recursos (dinheiro): Esse perfil é daquelas pessoas ou empresas que seguidamente recorrem a crédito, devido à não conseguirem cumprir com seu orçamento, ou ainda adquirem bens através de financiamento, como máquinas, veículos ou imóveis. Para esse perfil, o efeito prático da redução de taxa de juros torna-se menos evidente, pelo menos de imediato, visto que os bancos não reduzem seus juros na mesma proporção da taxa Selic. Os bancos precificam suas taxas de acordo com vários fatores, sendo que os principais é a garantia fornecida para a operação e o índice de inadimplência de mercado.
Para as pessoas e empresas que já possuem alguma linha de crédito contratada, e que vem pagando as parcelas de empréstimo/financiamento, uma alternativa é consultar outras opções nos bancos, a fim de verificar se esses possuem alguma linha de crédito com juros menores, visto que se a operação foi contratada com taxa pré determinada, numa época que a Selic era maior, talvez contratar agora fique mais barato. Seria a troca de uma dívida de juro maior por uma de juro menor.
Inclusive, pode ser feito a portabilidade de crédito. A portabilidade é a possibilidade de você solicitar transferência de uma operação de empréstimo/financiamento de um banco para outro, se assim você conseguir identificar uma taxa menor em outro banco e fazer a negociação e aprovação da nova operação. Caso positivo, a nova contratação liquida a anterior. Na prática, é uma troca da dívida que você pode fazer entre os bancos, com objetivo de pagar menos encargos. Podemos fazer uma analogia à conhecida portabilidade de telefone celular, passando o seu número de uma operadora para outra.
Independente disso, a garantia de uma dívida ainda é um fator extremamente determinante para a taxa de juros. Ou seja, se você busca crédito e consegue fornecer algum bem em garantia, pagará juros menores.
Para os tomadores de recursos, principalmente aqueles que contratam empréstimo para poder pagar as contas do mês, é necessário organizar-se de forma que possa se manter com a sua renda atual. Não é porque a taxa de juros reduzirá que será vantagem contratar empréstimo. O crédito deve ser utilizado de forma consciente, para situações excepcionais ou de investimento, como alguma emergência, ou ainda aquisição de algum bem.
Há ainda uma expectativa de nova redução da taxa de juros, onde esse ciclo de baixa começou em outubro de 2016 (na época a Selic era 14,25% ao ano). Saberemos se reduzirá ou se manterá a taxa em maio, quando haverá uma nova reunião do Copom. As reduções de taxas têm como um dos objetivos macro de criar condições favoráveis para os empreendimentos, onde terá maior valorização o trabalho do que a renda, visto que deixar dinheiro parado não se tornará tão atrativo. Ainda assim, o Brasil continua sendo um dos países com a maior taxa de juros reais do mundo.
Então poupadores: é hora de procurar alternativas de investimento que terão maiores rendimentos. Já aos tomadores, a prioridade é organizar-se através de orçamento e após pesquisar taxas de juros de outras operações e bancos.
Fabio Nepomoceno - Consultor de Finanças