As dificuldades financeiras estão relacionadas ao momento econômico do país?

Pesquisas revelam que ao menos nos últimos 10 anos, a parcela da população brasileira em dificuldades financeiras tem se mantido como maioria absoluta, como foi no último mês de abril/2019, quando o índice de endividamento, apurado e revelado pela Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor-PEIC, atingiu o percentual de 63% e a inadimplência o percentual de 24%.

 

O curioso é que as causas primeiras de dificuldades financeiras da família não está relacionado ao desemprego ou ao momento econômico atual. Mesmo em períodos de melhora da economia a soma dos endividados não ficou abaixo dos 50%, e a contração de dívidas que excede os ganhos continuou como uma realidade entre aqueles com salários maiores e aqueles que tiveram o seu emprego e a sua fonte de renda mantida durante a crise.

 

Notório é que a inadimplência e o endividamento, para muitos, não é um evento pontual causado por acontecimentos macroeconômicos do país, e sim um mau hábito estabelecido na história de vida das pessoas.

 

O índice de endividamento e de inadimplência crescente aumenta a procura por ajuda de consultores, assessores, educadores e planejadores financeiros. No entanto muitos dos conhecimentos técnicos financeiros transmitidos são usados apenas no início do programa de orientação e depois de determinado período são ignorados e sobrepostos por comportamentos não coerentes com o planejamento racional estabelecido. As decisões são desviadas para caminhos não favoráveis, como os desembolsos com aquisições não necessárias e com desejos que não estavam planejados.

 

Faltam aos adultos habilidades socioemocionais como a determinação, o autocontrole, a persistência, e a conscienciosidade tão necessárias para a prática dos ensinos recebidos, as quais são preteridas na infância por sistemas de ensino que dão maior ênfase às habilidades intelectuais e as notas altas na avaliação do sucesso de uma criança.

 

O nível de dificuldade financeira tem uma relação negativa com o baixo desenvolvimento de habilidades socioemocionais. Foi o que constatou a pesquisa de Parise&Peijnenburg (2017) publicada no relatório do Bank for International Settlements, ou BIS (2017), que investigou a relação entre o nível de desenvolvimento das habilidades de estabilidade emocional e conscienciosidade com a situação financeira das famílias. Segundo a pesquisa, quanto menor o desenvolvimento destas habilidades, maior a propensão da pessoa de ter dificuldades financeiras.

 

Pessoas com instabilidade emocional tendem a ser ansiosas e imediatistas e, sem o controle das emoções, são vulneráveis a comprar por impulso. Não avaliam cuidadosamente a viabilidade financeira e principalmente compram produtos de luxo, não de necessidades básicas, conforme relatou a pesquisa (BIS, 2017). As compras em excesso resultam em outras dificuldades financeiras, como a tomada de crédito a juros altos, a inadimplência e a falta de poupança e de preparo para a aposentadoria. A conscienciosidade, que é a habilidade de disciplina, organização, orientação para os deveres e objetivos - quando pouco desenvolvida - representa um obstáculo para que métodos e técnicas sejam utilizados e os planejamentos sejam executados.

 

Portanto políticas de alívio e metodologias de ensino que não incluem intervenções para melhorar as habilidades socioemocionais estariam fadadas ao fracasso, pois os orientados voltariam às suas vidas sem ter aprendido a lidar com as causas primeiras que os trouxeram até as dificuldades em que se encontram e reincidiriam, ou seja, acabariam por contrair novas dívidas.

 

Conduzir os orientados ao reconhecimento de tais carências socioemocionais pode ser um começo significativo de intervenção e mudanças comportamentais.

 

Fonte: Adaptado de Administradores.com

Autora: Gicelda Moreira

Acesso ao texto original, clique aqui.

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