Toda empresa será vendida. É apenas uma questão de tempo

A afirmação do título dá arrepios quando pronunciada diretamente aos sócios de uma empresa, especialmente os de pequeno e médio portes de origem familiar, que representam a grande maioria dos empresários no Brasil.

 

Para testar a veracidade dessa frase, faço a seguinte provocação: um processo de doação ou venda das ações para uma nova geração não se trata de uma venda? Empresários que iniciam a preparação de suas empresas para serem geridas e perpetuadas pelos filhos e netos devem ser menos cautelosos com seus ativos e passivos ao transferi-los do que aqueles empresários que buscam a venda para investidores estranhos à família?

 

Por que em uma transação tradicional de M&A (da sigla em inglês para Fusões e Aquisições) existe uma preparação do negócio, a avaliação dos ativos e dos passivos (conhecida como valuation), uma due diligence (auditoria) proposta pelo comprador e centenas de páginas de contratos com delegação de responsabilidades variadas para ambos os lados, e, em casos de transferência das ações para os filhos o que existe, na maioria dos casos, é apenas apoio de psicólogos corporativos e advogados? 


Defendo a ideia de que toda a empresa deveria estar pronta para ser vendida, pois isso representa tão somente ter o controle e o conhecimento pleno das operações. Estar pronto para vender o negócio inclui conhecer os riscos da atividade, o real valor de mercado dos ativos e o custo de oportunidade de se permanecer investido no negócio. Muitas vezes a aparente lucratividade de um balanço não auditado está mascarando a criação de passivos,  que são relevados somente quando se inicia a tentativa de uma venda. Se são necessários exemplos para ilustrar, vejamos alguns comuns às empresas de pequeno e médio portes: informalidade nas relações de trabalho e ausência do devido recolhimento de tributos e encargos. Nestes casos, a criatividade impera, até o momento em que começam as reclamatórias na Justiça.

 

Outro problema frequente é a informalidade nas relações comerciais, de compra de insumos e venda de produtos acabados, quando se aceita pagar com desconto pela matéria-prima desde que o fornecedor emita “meia nota”, ou ainda, aceita-se receber menos dos clientes que, por outro lado, não exigem comprovante fiscal de tal pagamento. Além do custo implícito com o risco de autuações, demandas judiciais, incidências de multas e juros pelos valores não devidamente reconhecidos, há um custo indireto da dificuldade de gerir um negócio, cujas informações vitais relativas a entradas e saídas e respectivas margens estão artificialmente afetadas por uma realidade que funciona apenas por um tempo. Esse custo, gerenciado de maneira oculta pelo empresário, acaba sendo pago na hora de vender a empresa, mesmo que o comprador do negócio seja o próprio sucessor.

 

Face ao exposto, é essencial ter claro duas realidades inescapáveis.

 

A primeira é que toda empresa será vendida. É apenas uma questão de tempo.

 

E, por fim, toda empresa deveria estar preparada para ser vendida – independentemente de quem seja o comprador. 

 

Fonte: Revista Amanhã

Autor do artigo: Ricardo Albert Schmitt

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