Como reduzir os efeitos da inflação na empresa?
A alta da inflação, hoje na casa de dois dígitos (11,73% em 12 meses), aflige não só os consumidores que veem a renda minguar, mas também as empresas, cuja capacidade de planejar fica comprometida. Os reajustes de aluguéis, combustíveis e energia elétrica, por exemplo, têm um efeito devastador no caixa das micro, pequenas e médias empresas.
Levantamento do Sebrae em parceria com a FGV, feito com mais de 13 mil empreendedores, mostra que, para 50% dos entrevistados, a escalada nos custos é o que mais traz dificuldade para o negócio. “Qualquer aumento, seja em matéria-prima, seja em energia, impacta bastante as contas de uma PME”, diz o professor de economia da FEA-RP/USP Pedro Henrique Nascimento.
O levantamento mostra ainda que a falta de clientes por causa da queda na renda é outro grande problema para as PMEs. “O custo aumenta, e há uma perda da receita do estabelecimento devido a vendas menores, reflexo do poder de compra reduzido.”
A empreendedora Fabiana Lemos, proprietária de um estúdio de sobrancelhas na região da avenida Paulista, em São Paulo, conhece bem essa situação. A empresa é familiar: trabalham ela, o marido e a filha. Segundo Fabiana, com a pandemia, a inflação piorou bastante. E alguns itens que encareceram após o estouro de contaminação pelo coronavírus afetaram diretamente o andamento do trabalho.
“Antes, pagava cerca de R$ 20 a caixa de luvas com 50 pares; hoje, fica em torno de R$ 100. Outros itens, como agulhas, algodão e máscaras, que já faziam parte da nossa segurança, também tiveram preços elevados por causa da maior procura”, diz Fabiana.
Uma das consequências da alta dos custos foi a troca de local de atendimento. Antes, eles ficavam dentro de uma galeria, também na região da Paulista. Mas, para diminuir os custos com aluguel, decidiram ir para uma sala em um prédio comercial.
Esse tipo de mudança também aconteceu com Ramon Lima, dono do Marahú Comida Paraense, que teve de fechar o espaço físico do negócio, em São Paulo, por causa da inflação. No momento, o Marahú trabalha apenas com delivery – por meio de uma empresa terceirizada – e eventos na capital. Lima não pretende reabrir o espaço físico tão cedo. “As coisas não estão favoráveis, já que tudo está muito caro. Aluguel, custo de manutenção e insumos subiram demais.”
Dicas
Segundo especialistas, há algumas alternativas para que as PMEs possam reduzir os efeitos da alta dos custos. O professor de finanças do Insper Ricardo Rocha ressalta que é necessário atenção na hora de comprar insumos em momentos como este.
“Para pagar menos, talvez seja possível trocar algum produto de marca se achar que não vai perder qualidade”, diz ele, que recomenda diversificar fornecedor de crédito, lançar produto e não misturar a conta pessoal com a conta do negócio.
Outro ponto para prestar atenção é o balanço entre a necessidade de aumentar os preços praticados pelo estabelecimento e a sensibilidade do consumidor quanto a possíveis alterações nos valores cobrados. É preciso avaliar se os clientes vão gastar menos ou até mesmo deixar de consumir o produto com a alta dos preços, o que pode piorar ainda mais a situação.
Além dessas dicas, é importante sempre lembrar do dever de casa em termos de gestão. Segue algumas orientações:
1. Redução no consumo de água, energia elétrica e planos telefônicos
Monitore as contas básicas da empresa, como faturas de água, energia elétrica e telefonia, que são reajustadas com base na inflação, e tente criar alternativas para reduzir o valor pago. Um controle cuidadoso dos gastos é fundamental para saber onde diminuir as despesas.
No caso de planos telefônicos, basta tentar trocar por um que seja mais barato e que se adeque às necessidades do negócio. Na utilização dos recursos naturais, pode se pensar em uma política de redução de consumo, utilizando menor quantidade de água e aproveitando, se possível, a iluminação natural dos ambientes. Utilizar conscientemente equipamentos que consomem mais energia elétrica, também pode gerar uma redução na fatura.
2. Crie uma precificação dos produtos/serviços proporcional aos gastos
Com o aumento de alguns itens, toda uma cadeia produtiva acaba sendo impactada. É o caso por exemplo do preço do combustível, que influencia no preço dos transportes, e por consequência, matéria-prima e produtos. A inflação torna todo tipo de compra mais cara no final, mas é importante lembrar que não é só o empresário que está pagando mais caro. O consumidor também é muito afetado e pode ter a renda comprometida com os aumentos repentinos, o que compromete o poder de compra dele.
Ou seja, é importante que o repasse do produto ou serviço, seja proporcional ao aumento dos gastos, para que as pessoas ainda consigam adquiri-los, sem muito prejuízo com queda nas vendas e baixo lucro. Através da realização da gestão financeira e do fluxo de caixa do negócio, o empreendedor pode se possível, elaborar estratégias para evitar esses repasses ao consumidor, como as atitudes abordadas na primeira dica.
3. Adie investimentos
Como os custos estão elevados, é importante abortar os planos de investimentos arriscados e solicitações de empréstimos e financiamentos que não são urgentes. Em épocas de inflação alta, é preciso desviar da compra de produtos ou equipamentos que podem esperar para serem adquiridos, bem como, de reformas ou mudanças estruturais. Os investimentos só devem ser realizados se forem absolutamente essenciais e caberem no orçamento.
4. Atenção aos indicadores da inflação
É importante saber se os indicadores estão mais altos ou mais baixos para saber controlar as finanças do negócio. Por exemplo, ao saber dos números e perceber que um fornecedor está cobrando um valor acima do taxado, há justificativa plausível para trocar de parceiro.
Essas são algumas das ações que podem ser tomadas para sentir menos as consequências da inflação na empresa. Solicitar o parcelamento de débitos também pode ser uma boa opção para a gestão do caixa.
Fonte: Adaptado de R7 Economia e Sebrae/SC
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